segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Análise da antologia "A magia dos yokais"

Personagens dos meus contos (da esquerda para direita, de cima para baixo): Soujoubou (Desfile de Cem Demônios), Kuzunoha (Desfile de Cem Demônios), Otame Yagusu criança (O pequeno Dodomeki) e Nurarihyon (Desfile de Cem Demônios). Quase morri pra fazer esses desenhos no Photoshop.
Olá, leitor!
Feliz Dia do Saci e das Bruxas!
 
Então nada melhor do que aproveitar a data auspiciosa e falar de sobrenatural!
 
Lá no começo de abril comentei que estava participando de uma antologia (coleção de contos) e pedi para quem pudesse participar do financiamento coletivo que desse uma olhada no projeto.

Foram 106 apoiadores e a meta batida de 121%!
A todos que participaram do financiamento e a todos que ajudaram a divulgar o projeto, eu agradeço imensamente.
Apesar de entender que deveria pedir por apoios, também sei que não deveria ser inconveniente, portanto, muito obrigada de coração a todos que participaram!!!

Bom, agora vamos às apresentações!

Eu sou Hellia Nakatsu, mais conhecida na internet como "Kimono" ou "Akai Kim", sou neta de japoneses por parte de pai, escrevo histórias desde os anos 2000 e pesquiso sobre folclore japonês desde 2014. Comecei em 2013 este blog para falar sobre animes e durante esses nove anos de existência analisei muitos animes com folclore japonês.

Os dois contos que enviei ao concurso e que compõe esta antologia, "Desfile de cem demônios" e "O pequeno Dodomeki", foram enviados com apenas uma certeza em mente: eu fiquei satisfeita com o resultado.
Não quer dizer que são os melhores, mas que eu li e achei que aquele trabalho estava bom para ser enviado. Então não tenho arrependimentos.

Um detalhe essencial para esse sentimento foi a maturidade.
Eu pesquiso sobre folclore japonês há bastante tempo para estar familiarizada com as criaturas e os contextos de suas existências. E, por isso, resolvi fazer neste texto o que já estou acostumada: analisar e pesquisar.

Então, caro leitor que gosta da temática e deseja escrever suas próprias histórias e colegas que participaram desta antologia, tenho algumas dicas interessantes.

Se serão usadas ou não, já está fora da minha alçada.
 
- Povo amarelo - Vivência, convivência e consciência -
Leitor, não se iluda.
O fato de alguém ser descendente de japoneses não lhe dá poderes mágicos ou entendimento sobre a sua própria existência. E é importante dizer que muitos desses descendentes se veem como pessoas brancas e repetem estereótipos e preconceitos até mesmo contra outros descendentes e minorias.
 
Aí entra a compreensão da identidade amarela, muito bem trabalhada pelo Leo Hwan no vídeo "Entendendo ORIENTAIS DO BRASIL". Pois é, o vídeo é longo, só que muito importante e acolhedor ao amarelo que se vê ainda como "branco privilegiado".

"Kimono, na boa, o que isso tem a ver com a antologia?" - A partir do momento que você fala de vivências que não são suas, você precisa pesquisar e saber mais sobre aquela pessoa ou grupo que você quer escrever. E muitas vezes as pessoas não-amarelas fantasiam uma perfeição que não existe.

Sim, galera, os japoneses são educados, recolhem o lixo, são inteligentes... Entretanto, todo um povo não pode ser medido por essa régua. Entre os japoneses também existem ladrões, os que não prestam, os mentirosos e os que vão querer tirar proveito da situação, assim como em qualquer outro país com qualquer outro povo.
 
Não é algo fácil de perceber, mesmo entre os descendentes de asiáticos, o fato de não sermos "brancos", de precisarmos manter o comportamento da "minoria modelo", de às vezes sermos tratados como estrangeiros no lugar onde nascemos.
 
Isso é sobre vivência como pessoa amarela.
 
Pessoas da minha geração (com 30 e poucos anos) são netos de japoneses, com pais e/ou mães já nascidos no Brasil. Eu pude conviver com os meus avós paternos e fui criada com parte da comunidade japonesa durante a minha infância, então eu reconheço alguns detalhes e interações.

Pelo menos um conto tinha um descendente que morava no Brasil e achei estranho o fato do avô do personagem, que mora no Japão, chamá-lo com o sufixo "-san" no final do nome. Normalmente se usa "Fulano-san" quando você não tem intimidade com a pessoa, acabou de conhecê-la ou precisa demonstrar respeito, fora qualquer "zoeira" específica e afins.

É compreensível que se diga "obaa-san" ou "ojii-san", mas "neto Fulano-san" não é verossímil, mesmo que os avós morem no Japão e não vejam o neto há muito tempo. O sufixo "-kun" é mais normal, assim como não usar nada.

Os avós japoneses que moram no Brasil costumam chamar só pelo nome mesmo, enquanto os netos usam "baa-chan" e "jii-chan" ou "avó" e "avô".

Portanto, é bom pesquisar mais a fundo e, se for o caso, pedir uma leitura sensível para evitar esse tipo de furo.

E aí entra a nossa estrela!
O folclore? ERRRRROOOOOU! A pesquisa!!!
Kijimuna, a adorável criatura sobrenatural típica de Okinawa, e que aparece no anime Shiroi Suna no Aquatope. (Imagem meramente ilustrativa)
- Pesquisas - A base de tudo -
O problema de "contornar" a pesquisa é que, quem conhece a fundo o assunto, percebe que a pessoa não sabe o que está escrevendo ou simplesmente não quis se dedicar tanto a isso.

Independente do que você for escrever, leitor, é preciso ter base para fazê-lo.

"Ah, não dá para... deixar a criatividade fazer o trabalho?" - A criatividade é muito importante no processo, mas você precisa saber o que está escrevendo. E isso só se consegue com estudo/pesquisa, que vai formar a base para a sua história.

"Opa! Peguei um monte de referência aqui, vou enfiar tudo junto e... TÁ PRONTO!" - Bom, se você fica satisfeito com esse tipo de trabalho é uma escolha sua. Como leitora, e falando neste txto exatamente como uma leitora, eu fico bem chateada de ler algo assim.

Não se iludam. O leitor ávido percebe quando o escritor não fez aquilo com "alma", com dedicação e apreço. E pelo menos um conto que li foi exatamente assim: várias referências soltas, uma tentativa de juntar tudo e passar alguma mensagem que ficou perdida no finalzinho. Foi como comer o famoso "pastel de vento".

"Ah, mas depois de passar aquele currículo lá em cima, você deve ter achado tudo uma porcaria" - Quem dera meu ego fosse desse tamanho, pelo menos eu sofreria menos. Mas não, leitor, eu peguei essa antologia com a fome de quem gostaria de ler mais histórias sobre youkais e, melhor, criadas por quem também ama esse assunto como eu.

E o que mais me trouxe felicidade foi encontrar histórias muito boas, bem embasadas e bem escritas nessa antologia. Narrativas gostosas de ler e personagens carismáticos.

Além disso, eu não estou aqui para condenar e jogar na fogueira, não sou esse tipo de pessoa.
 
O que eu acho importante é apontar os problemas e mostrar no que o escritor pode melhorar. É como escrevi na análise do capítulo 345 de Magi: "Um sonho sonhado junto, se torna realidade".
E eu vi gente cheia de potencial participando dessa antologia. Gente que deve continuar trabalhando por esse objetivo, de escrever suas próprias histórias, de ser publicado e de ser lido!

Nós precisamos de mais escritores brasileiros, de mais leitores de escritores brasileiros, porque isso é bom para o nosso próprio povo. Trocamos experiências, conhecemos novas vivências e isso é fascinante!

O mínimo que cada um de nós deve fazer é impulsionar todo mundo ao topo.
Ninguém vai longe sozinho, tá?

Certo, abriram as portas do inferno, vamos falar de PESQUISAS.

Odeio fazer, entretanto, sei que é importante e por isso costumo trazer detalhes nos animes que analiso. Ah, é esporte? Toma regras. Ah, é folclore japonês? Toma os dados. Ah, é elenco de dublagem? Olha onde os malditos já deram fanservice vocal.

Não sei quantos dos autores da antologia já foram ao Japão, mas sei de uma autora que mora lá. Então como resolver o problema dessa "vivência"?

PESQUI—
Certo, todo mundo entendeu, né? Mas pesquisar onde exatamente?

Acho válido as pessoas se basearem em doramas (novelas japonesas), porém, com um importante adendo: assim como as novelas brasileiras, ali é uma dramatização da realidade, ou seja, pode conter muito exagero e estereotipação. É preciso ser cauteloso e observador. Sem falar que a atuação dos japoneses é dolorosa em alguns casos.

O que eu gostava muito quando tinha TV paga era assistir o canal estatal japonês NHK, o único que aparece no plano internacional das operadoras. E consumia tudo que tinha por lá: documentários, programas de variedades, noticiários e programas infantis. Esse não é o canal que passa animes, mas a gente vê mais sobre o Japão e acaba entendendo costumes e conhecendo mais sobre o lugar.

"Ah, Kimono, não entendo nada de japonês" - Não precisa. Claro que te daria um contexto incrível, mas com observação você começa a entender algumas coisas.

Por exemplo: sempre quando chega o verão vem aquele calor horrendo, depois umas chuvas torrenciais e aí começa o período dos tufões. Esse é um padrão.
Ou que em muitas praias no Japão têm areia escura ou pedras redondas. Que no interior não tem metrô e muitas vezes os ônibus demoram a passar (tem plaquinhas nos pontos avisando os horários).

Atualmente, com ajuda da tecnologia, dá para ver lugares que você nunca foi, o que ajuda nas descrições.
 
Quanto mais conhecimento você agrega, mais base e segurança você tem para criar ou recriar cenários.

Já na parte de personagens, além dos doramas, os animes também são boas fontes, principalmente para entender alguns conflitos internos e comportamentos.
Sempre, é claro, com aquela cautela e observação.

O sistema de escola no Japão é bastante diferente do que temos no Brasil, desde comportamento com a reverência ao professor até a participação em clubes e o bullying, que costuma ser bastante pesado.

Conforme você vai consumindo muitas histórias feitas por japoneses sobre japoneses, alguns padrões vão aparecendo e você vai amadurecendo suas ideias.

Certo, já falamos sobre cenários (onde a história se passa) e personagens (como são os japoneses), agora chegou a hora do folclore!

E daí começam os problemas.

Entendo que nem todo mundo saiba inglês e acho completamente normal, afinal, o Brasil foi colonizado por Portugal e desde então fala-se majoritariamente português no país.

Contudo, há fontes mais confiáveis de pesquisa em inglês e até mesmo em japonês. Eu sei que o Google Tradutor não é perfeito, mas alternando entre os idiomas, colocando a ferramenta para traduzir japonês para inglês, funciona bem.

Uma coisa que me intrigou em um conto é a tal da "Hoshi no Tama", a esfera de estrela, que uma raposa de nove caudas carregava consigo. Diz-se que é a "Hoshi no Tama" que dá poderes à raposa e que tomar essa joia dela, faz com que o humano consiga negociar com a criatura ou comandá-la.

Foi a primeira vez que ouvi falar sobre isso.
Consta no Wikipedia (em inglês). Contudo, outras pesquisas do Google indicam wikis de séries e jogos, que não são a melhor fonte de pesquisa, pois misturam as lendas com algo criado para esses universos específicos.

Quer um mau exemplo de uso do folclore? Na série Sobrenatural (Eric Kripke), os irmãos Winchester se deparam com uma "Kitsune" americana que se alimenta de cérebros. É uma mistura de esvaziamento cultural com invenção tosca e "folclore maldito". Aliás, o que a série americana mais gostou de fazer com folclore japonês e de outras regiões foi demonizar as criaturas sobrenaturais. Bom, depois falo mais sobre isso.

Segundo as lendas, quando vivem muito, raposas (assim como qualquer animal ou objeto) ganham poderes sobrenaturais. No entanto, esses poderes não dependem de joias.
Tamamo-no-Mae desgraçando a vida do Kitarou em GeGeGe no Kitarou (2018) #74. (Imagem meramente ilustrativa, pois você vai cansar de tanto texto)
Apesar de ser a mais famosa, a raposa de nove caudas (Kyuubi no Kitsune; Kyuubi no Youko) não é o único tipo de raposa sobrenatural que existe no folclore japonês.

Aliás, foram 3 a 4 contos que citaram erroneamente a frase "kitsune, a raposa de nove caudas". Então bora explicar para ninguém mais se confundir.

Kitsune é a palavra para "raposa", independente de ser sobrenatural ou não.
Inclusive, seu kanji significada somente isso, "raposa". Não é "raposa mágica", "raposa encantada", nem "raposa sobrenatural".

Portanto, dizer "kitsune, a raposa de nove caudas" está errado.

A "raposa de nove caudas" é a Kyuubi no Kitsune ou Kyuubi no Youko.
 
É como brinquei no episódio 70 de GeGeGe no Kitarou (2018): "Uma raposa de nove caudas (kyuubi) é uma raposa (kitsune), mas nem toda raposa (kitsune) é uma raposa de nove caudas (kyuubi)."
 
Quando a pessoa escreve "kitsune, a raposa de nove caudas", ela está dizendo que o termo "kitsune" se refere à "raposa de nove caudas".
 
Porém, entre as "kitsune" existem muito mais do que a raposa de nove caudas.
Temos as mensageiras do deus Inari, as protetoras de santuários, as que pregam peças só para se divertir, as que pregam peças para se divertir e matar humanos, as que se transformam para beber, as que se transformam para se divertir, e por aí vai...

Há uma variedade de "kitsune" que existem com seus próprios termos: Myobu (aquelas estátuas de santuários), Zenko (raposas boas de rank espiritual mais elevado), Kudagitsune (raposas pequenas que vivem em tubos), Ashirei (rank mais baixo entre as raposas, podendo ser animal ou sobrenatural), entre outros.

Pois é, apesar da nove caudas ser a mais famosa, aparecendo em Naruto (Studio Pierrot), Ushio to Tora, Nurarihyon no Mago e até mesmo em GeGeGe no Kitarou (2018), existem outros tipos de raposa.

ALIÁS... Kitarou já teve um episódio com um youkai raposa que... adivinhem só... não tinha nove caudas!
Ainda... Vai que vive uns mil anos e fica com as nove, né?
 
Também é bom lembrar que raposa sobrenatural não é um problema apenas japonês. Elas existem também na China e nas Coreias (Gumiho/Kumiho), sendo mais agressivas e perigosas no último.

A raposa de nove caudas mais famosa do Japão é a Tamamo-no-Mae (24), que se originou na China e fez estragos por lá, pela Índia e pelo Japão, onde encontrou seu fim.

Muito bem...
Além do problema da raposa de nove caudas, em dois contos o Grande Rei Enma (Enma-Daioh/Enma-Daiou) foi traduzido como "Deus do Inferno" e "Grande Rei Demônio".

Na verdade, ele é um dos juízes do submundo e comanda o inferno e o submundo.
Aliás, muito importante separar o "submundo" (Meidou) do "inferno" (Jigoku).

E antes de explicar a diferença desses dois, preciso explicar outra coisa, pois com contexto vai fazer mais sentido.

O Brasil é um Estado Laico, o que quer dizer que todo cidadão tem o direito de crer e exercer a sua fé livremente. No entanto, o nosso país é de maioria cristã, entre evangélicos e católicos.

Os cristãos acreditam que tudo é separado entre Bem e Mal, sendo Deus o Bem e o Diabo obviamente o Mal. Tudo que não é de Deus, automaticamente é do Diabo.

O problema é que não dá para medir as crenças dos outros com a régua cristã, uma vez que, outras crenças têm outras regras e interações.

No Japão, as religiões de maior destaque são o budismo e o xintoísmo, que apesar de parecerem a mesma coisa aos olhos ocidentais, não são.

O budismo foi levado ao Japão pelos chineses, mas tem origem na Índia.
O xintoísmo é um conjunto de crenças e rituais específico japonês.
 
E como reconhecer cada um? Por alguns detalhes:
 
Budismo
-Templo/Ohtera/Tera;
-Monges como sacerdotes dessa religião;
-Arquitetura: Pagode (não a música, tá?);
-Buda como uma das principais entidades divinas.

Xintoísmo
-Santuário/Jinja;
-Kannushi/sacerdotes;
-Arquitetura: Torii (aqueles portais vermelhos, como os que têm no bairro da Liberdade em São Paulo e em algumas cidades com número grande de imigrantes japoneses);
-Diversos deuses: Kami-sama, Amaterasu, Inari.

Quando você pesquisa o folclore japonês, se depara com interações entre ambas as religiões.

O conto do cão-guaxinim (tanuki) que tentou enganar um monge se transformando em algum artefato do templo ou o caso do monge que perdeu as orelhas, Miminashi Houichi. Esses são dois exemplos de interação com o budismo.

Abe no Seimei, o filho de uma raposa youkai com um humano, famoso onmyouji (feiticeiro) e astrólogo. Shikigami, os papéis com forma de humano, que podem ser usados para invocar espíritos e familiares (criaturas que têm contrato com o invocador) ou até mesmo substituir pessoas. Esses são exemplos do xintoísmo.

Tanto monges quanto onmyoujis são capazes de praticar exorcismos, porém, o modo como fazem também é diferente. Um dos contos acabou misturando os dois e ficou confuso.

Bom, leitor, o que eu quis dizer com toda essa conversa?
Que o escritor, antes de ser seguidor de alguma religião, deve ter a mente aberta para falar de religiões e crenças que não segue. Isso evita repetição de preconceitos e demonização do que pertence ao "outro".

Não dá para olhar o folclore japonês com um pensamento cristão, pois você não vai chegar a lugar nenhum. A régua que mede um, não mede o outro.

Na fé cristã, acredita-se que depois que morremos, nosso espírito vai para o Além e será julgada, sendo enviada ao Céu, ao Inferno ou ao Purgatório.
Eu mesma, a pessoa que analisa anime sobre inferno em pleno Carnaval, pois sou dessas. (Imagem meramente ilustrativa de Hoozuki no Reitetsu)
No Japão, o período em que a alma passa por julgamento é de 49 dias, com intervalos de sete dias entre cada um, que é exatamente quando os sete juízes do submundo irão decidir para onde irá a alma.

Explicando para visões cristãs, é como se você morresse e caísse DIRETO no purgatório. Conforme você vai sofrendo na travessia, os juízes vão julgando se você CONTINUA NO PURGATÓRIO, vai logo para o Céu (Tengoku) ou é jogado de uma vez no Inferno (Jigoku).

Claro que, em casos específicos, as pessoas podem ir direto ao Céu ou direto ao Inferno, dependendo de como agiram enquanto estavam vivas.

Basicamente, depois de morto, essa alma depende dos rituais e orações dos familiares para seus julgamentos serem um pouco mais leves.

Sobre o "Grande Rei Demônio", é preciso entender o que a pessoa quis dizer com "demônio". É pelo fato de ele mandar no inferno? Ou pelo fato de sua cara brava parecer com a de um demônio cristão?

Sim, leitor, existe o conceito de demônio e propriamente a criatura dentro do folclore, mas Enma e seus onis não estão no pacote. Os onis são "ogros". O ocidente, para facilitar a assimilação, usa demônio por se tratar de "algo mal; ruim; que gosta de fazer maldades".

Se bem que essa definição serve mais para o próprio ser humano, só que vocês não estão prontos para essa conversa.

Brincadeira, bora seguir o baile!

Vou deixar aqui alguns links de pesquisa sobre folclore japonês e Japão, que acredito serem interessantes e que devam ser mais difundidos entre aqueles que gostam do tema:
 
- Yokai.com (em inglês) - Um site bem completo com imagens e informações sobre criaturas sobrenaturais japonesas, que vão além dos youkais, pegando também fantasmas, eventos sobrenaturais e outras curiosidades. Até encontrar esse site, eu penei em pesquisas em inglês e até japonês.

- Matthew Meyer (em inglês) - Twitter do criador do site citado acima. Ele também traz outras histórias além das que estão no site.

- Yokai Parade (em inglês) - Twitter que traz curiosidades sobre youkais, compartilha artes e eventos com essa temática.

- Camellia Tea (em inglês) - Twitter de uma casa de chá que fica em Quioto e compartilha curiosidades, docinhos típicos, cerimônia tradicional do chá, festivais e algumas histórias com youkais e fantasmas.

- Unseen Japan (em inglês) - Twitter que traz o cotidiano do Japão sem a "visão brilhante" do ocidente, comentando fatos importantes e noticiários.

- HET/Lorena Herrero (em português) - Twitter da artista brasileira Lorena Herrero. Apesar de ser folclorista especializada em folclore brasileiro, a Lorena AMA RAPOSAS SOBRENATURAIS, então ela pesquisa bastante sobre o assunto.
Inclusive, no seu quadrinho "Sétimos Filhos", tem a personagem Cris que é uma Gumiho, comedora de fígados nham-nham. <- Ainda não apareceu no quadrinho, mas ela sempre posta desenhos da Cris.

- "A Essência do Xintoísmo - A Tradição Espiritual do Japão" de Motohisa Yamakage, Editora Pensamento - Comprei durante uma Bienal do Livro, pois pretendia entender mais sobre o xintoísmo para escrever minhas histórias. O autor é sacerdote xintoísta, então sabe exatamente o que está falando.

Eu poderia indicar outros livros de referência, mas como ainda não adquiri, prefiro não incluir.

Existem também alguns animes interessantes sobre a temática, como:

- Folktales from Japan (legendas em português) - Episódios curtos com duas a três lendas japonesas, entre folclore e mitologia, algumas vezes se repetindo.
Total de episódios: 258 (via My Anime List - em inglês).

- GeGeGe no Kitaro (2018) (legendas em português) - Adaptação mais recente da história criada por Shigeru Mizuki, que traz Kitaro, um youkai que resolve tretas entre humanos e outros youkais. Seu pai, um olho com braços e pernas, é uma ENCICLOPÉDIA. Ele sabe tudo sobre praticamente todos os youkais.
Total de episódios: 97. Tem análise em andamento no blog.

- We Rent Tsukumogami (legendas em português) - Dupla de irmãos toca uma loja de aluguéis no Japão antigo, sendo alguns itens "tsukumogami", objetos que ganharam vida depois de muitos anos. Eles resolvem perrengues na base da fofoca dos tsukumogamis!
Total de episódios: 12. Tem análise completa no blog.

- Noragami e Noragami Aragoto (legendas e dublagem em português) - Um deus que ninguém crê é "salvo" de um atropelamento por uma garota. A partir daí a vida dos dois se cruza e ela entra em contato com o mundo sobrenatural e brigas entre deuses.
Total de episódios: 12 (1ª temporada) e 13 (2ª temporada). Tem análise parcial da 1ª temporada e análise completa da 2ª temporada no blog.

Ia indicar Hoozuki no Reitetsu/Hozuki's Coolheadness, só que ele não está mais disponível na Crunchyroll. Talvez dê para encontrar na Netflix. E apesar de constar no Hidive, o site está fechando as portas ao Brasil.

O anime conta a história de Hoozuki, um oni que trabalha como secretário direto do Grande Rei Enma e vez ou outra tem que espancar uma alma fujona. É bem interessante para ver como funciona o inferno japonês. Na segunda temporada dá para conhecer também os outros juízes do submundo.

- Pesquisas - Adendos -
Em alguns contos a mitologia japonesa foi confundida com folclore, só que as duas são coisas diferentes.

Como bem comparou a Lorena em um de seus fios: a mitologia é o estudo dos mitos, como a criação do mundo, Izanagi e Izanami, e Amaterasu, enquanto o folclore é a identidade de uma sociedade através de atividades culturais e crenças, como o Betobeto-san, Hanako do Banheiro e os festivais.

Portanto, as histórias contadas na antologia pertencem ao folclore e não à mitologia japonesa.

Aproveito para voltar na parte de demonização do "outro", pois alguns contos me deram duas impressões: demonização e "folclore maldito".

A demonização comentada anteriormente é quando a gente trata algo que não é próprio da nossa vivência e cultura, como algo demoníaco ou do mal.
Havia um quê preconceituoso, que provavelmente não era a intenção de quem escreveu.

Já "folclore maldito" é tornar as histórias mais sombrias, às vezes aplicando a demonização, para parecer mais maduro. E daí eu puxo esse fio maravilhoso do Folclore BR sobre o assunto.

Entendo que seja complicado dosar as histórias a partir do público infantojuvenil, pois precisa ser legal para crianças entre oito anos ou mais e adolescentes de mais de 15 anos. É um campo bem amplo para agradar a todos.

Na minha opinião, a maioria fez um bom trabalho contando suas histórias.
Teve pelo menos duas que me arrepiaram e uma que quase me fez chorar.
Se bem que pela minha faixa de idade, eu obviamente não sou mais criança, contudo, se despertaram esses sentimentos em mim, imagina o quão incrível não podem ser para o público infantojuvenil.

O importante é entender que não devemos tratar as crianças como "incapazes" só porque na nossa visão eles são jovens demais. Também precisamos entender que existe um limite no teor do conteúdo que eles devem ter contato, é claro.

Os adolescentes costumam gostar de coisas mais elaboradas, uma vez que não são mais crianças e querem se distanciar desse grupo o mais rápido possível. Entendo, galera, mas calma, vocês vão crescer e virarem jovens.

Agora vamos ao próximo tópico.
O QUÊ? TINHA ACHADO QUE ERA O FIM? TÁ FICANDO TROUXA? ACHA QUE ESCRITOR NA OPORTUNIDADE QUE TEM DE ESCREVER, NÃO VAI APROVEITAR?
Quem dera esse daí fosse tão iluminado quanto os Satorus dos contos. (Imagem meramente ilustrativa de Jujutsu Kaisen)
- Nomes e Curiosidades -
Nunca vi tanto "Kenji" na minha vida. Nem tanto "Satoru".

Não, autores dos contos dos Kenjis e Satorus, isso não é um problema. Abaixem as pedras aí.
Só achei engraçado tanto Kenji e tanto Satoru. É meio bonitinho e engraçado.

Melhor não é isso, melhor é que em um conto a pessoa escolheu "Ryuunosuke" e lá no meu conto "Desfile de cem demônios" tinha o quê? Ele mesmo, UM RYUUNOSUKE.

Aliás, escolhi esse nome por três fatores:
-O kanji de "Ryuu" é de dragão, o que fazia sentido para o tipo de youkai;
-Ryuunosuke Akutagawa de Bungou Stray Dogs;
-Ryuunosuke Tanaka de Haikyuu!!.

Eu ri demais, leitor, porque se tivesse combinado NÃO DAVA TÃO CERTO!

Certo, agora vamos falar de nomes.
Quando você não conhece sobre determinado povo, obviamente ir no mais seguro é melhor para evitar gafes. Mas eu tenho uma boa dica para você que quer fugir do "lugar comum" sem escorregar feio.

CELEBRIDADES.
E aqui eu puxo a sardinha para os meus queridos DUBLADORES JAPONESES.
Além dos personagens de animes. Sério, tem gente com nome bem comum e legal, que pode ser aproveitado.
 
Vão aí alguns exemplos:

Akira: Akira Ishida (dublador), Akira Midousuji (personagem), Akira Uchida (personagem).
Jun: Jun Fukuyama (dublador), Jun Fukushima (dublador).
Kenjirou: Kenjirou Tsuda (dublador).
Toshiyuki: Toshiyuki Toyonaga (dublador) e Toshiyuki Morikawa (dublador).
Yuuma: Yuuma Uchida (dublador),
Yuuto: Yuuto Umehara (dublador), Yuto Shinkai (personagem).
 
Ok, esses foram dois centavos de nomes masculinos, agora dois centavos de nomes femininos:
 
Ayumi: Ayumi Kamishiro (personagem).
Ayaka: Ayaka Kamisato (personagem).
Maaya: Maaya Sakamoto (dubladora), Maaya Uchida (dubladora).
Miyuki: Miyuki Sawashiro (dubladora), Miyuki Sagara (personagem).
Naomi: Naomi Tanizaki (personagem), Naomi Chiaki (personagem).
Yuuko: Yuuko Ichihara (personagem).

Qual é, leitor, vai assistir uns animes, né?
 
Um adendo: em um dos contos, a família tinha nomes normais, só que o filho se chamava "Tanaka". O problena é que "Tanaka" é sobrenome.
Você até pode argumentar que quer que o personagem se chame assim e etc, mas fica totalmente inverossímil.
 
Quem é descendente e quem conhece sobre a cultura vai achar que alguma coisa deu errado no meio do caminho ou que a pessoa que escreve não conhecia nenhum outro nome. E era o filho de um pai que tinha um nome ok e uma irmã também com nome ok.

E já que é para falar em muito da mesma coisa...
Haja tempo para o Baku comer tanto pesadelo. Foi um dos youkais que mais apareceu em conto. Fora ele, as raposas de nove caudas. Nunca antes na história deste país, um lugar reuniu TANTA ENCRENQUEIRA JUNTA!
A raposa do meu conto "Desfile de cem demônios" tem cauda, mas não pensei na quantidade, só na treta.

Tirando Baku vencedor e a Kyuubi tretenta, tivemos muitos tsukumogamis, kodamas, kappas, onis e tengu. E duas Jorogumo.

O que me chamou a atenção foram as escolhas mais diferentonas, como: Nukekubi, Rokurokubi, Betobeto-san, Jubokko e Umi bozu.
 
Agora a gente vai para o próximo tópico!
 
- Criatividade? Temos! -
E como esses autores foram criativos!
Tirando poucos contos que pareciam genéricos ou não souberam trabalhar direito a temática, a maioria apresentou histórias interessantes e bem construídas.

E por que você acha que isso acontece, leitor?
Não, não é só a criatividade. Ela realmente faz parte do negócio, mas sabe aquilo de "95% de suor e 5% de descanso"? É assim que funciona com boas histórias.

Os autores que construíram bem seus universos são os que estão mais acostumados a escrever e que PESQUISARAM com mais afinco.

Sim, pesquisa, leitor.
Por que acha que eu gastei um monte de parágrafo com aquele tópico? Não foi de graça não, fofura!

Isso não quer dizer que você não possa "criar" em cima de um assunto, apenas que é preciso ter "embasamento" para fazê-lo.
Por exemplo: O clã Yagusu do meu conto "O pequeno Dodomeki" não existe no folclore japonês, no entanto, como eu tenho base (anos de pesquisa) e já escrevi muito sobre esses adoráveis tretinhas, a história é verossímil.

Não é questão de "ainn não posso criar youkais?" e mais de "será que isso faz sentido dentro desse tema?".

- "Se liga aí, que é hora da revisão!" -
Aproveitando o bordão do antiguíssimo Telecurso 2000, nem tudo foi perfeito nesta antologia. Alguns contos do meio para o final do livro estavam com muitos erros de português, frases que poderiam ter recebido vírgulas e mais alguns detalhes.

É compreensível que um ou outro erro passe, porém, a quantidade foi um pouco maior do que se espera de um livro de quase duzentas páginas.
 
No financiamento coletivo, 8% do valor (R$ 417,60) seria para pagar a revisão.
Então fica a dúvida: a pessoa responsável não teve tempo hábil, o que não deveria acontecer, ou algo no processo deu errado?
 
"Ai, Kimono, você nunca errou como revisora de legendas?" - Sim, já errei. Mas num script de quase 400 linhas, você erra em uma ou no máximo duas linhas (isso quando erra).

Não estou questionando a competência de quem fez a revisão, mas seu trabalho nesta antologia.

Aproveitando que estamos nessa conversa... Próximo tópico!

- Engajamento - O trabalho da editora e dos autores -
A qualidade do livro físico é muito boa, o material da capa e o papel do miolo também estão muito bons. Não tive nenhum problema na impressão do livro que recebi e as folhas também não são transparentes, como pode acontecer em obras de editoras maiores.

No entanto, sinto falta de um "vários autores" na capa, na lombada e dentro do livro. As pessoas só descobrem que os contos são de vários autores quando realmente abrem o livro ou o arquivo do livro digital. Acharia interessante ter essa informação, pois chamaria mais atenção.

Você vê a capa, a lombada, e nada.
Só quem já conhece a editora e/ou o projeto sabe disso.
Não há nada que identifique o livro como uma antologia e, mesmo assim, a palavra é estranha para a maioria dos leitores.

Mais do que um nicho, na minha opinião como leitora, os livros devem ser democráticos, ou seja, se abrirem para o maior público possível. Desde aquele que conhece a fundo o assunto até o que não sabe nada e pegou o título por curiosidade.

"Ah, mas você fala isso sem conhecer o mercado editorial" - Sim, eu não faço parte dessa área de trabalho e por isso mesmo escrevi "na minha opinião como leitora". Estou falando como consumidora.

Outra coisa que me chamou a atenção é que não tem uma equipe de marketing responsável por cuidar das redes sociais da editora, participando do engajamento.
É importante lembrar que o Instagram não é a única rede social, por mais que ele esteja em seu momento de auge, apesar de achar que o TikTok atualmente tenha mais apelo.
 
Que não mexam com TikTok, ok, mas existe Facebook, Twitter e YouTube. As outras redes sociais não podem ser negligenciadas em detrimento de uma só.

Ainda que a Cartola Editora seja considerada "pequena", ela é uma empresa de CNPJ ativo, portanto, ao menos uma pessoa deveria se dedicar única e exclusivamente às redes sociais.

As interações são muito robóticas.
Basicamente eu programando tweet durante a semana para avisar o povo que tem post novo ou reciclar aquele merchan bonito.

Por que não ter mais interações?
O perfil oficial da editora poderia colocar curiosidades sobre as antologias em que estão trabalhando e sobre os autores, combinar postagens com eles em suas redes sociais mais fortes, talvez entrevistas curtas em texto (se não quiserem vídeo), fazer a diferença.

É como escrevi lá em cima: "Um sonho que se sonha junto, vira realidade".
E todo mundo deveria trabalhar para isso. Não apenas um lado ou apenas o outro. Os dois juntos.

"Ah, mas dá trabalho" - Se fosse por isso, eu não teria um blog e muito menos estaria escrevendo esse texto. Tudo dá trabalho, leitor. É por isso que a recompensa é sempre mais doce.

A Cartola Editora fez algumas lives e participou de outras com alguns autores, mas não deve aceitar apenas isso. É uma editora nova, jovem, e que tem um futuro de muitos anos pela frente.

Nem todos os autores têm internet boa ou querem aparecer assim, "no susto". E eu acho que eles são tão válidos quanto aqueles que fazem vídeo, live, dancinha no TikTok.

Aliás, escritor, não se sinta menos que ninguém por ser tímido, introspectivo e ter problemas para mostrar o rosto ou falar em público. Você deve ter o seu tempo e sua vontade respeitada. No dia que quiser aparecer aí numa dancinha, numa live, seja muito bem-vindo. Você deve ser querido e se orgulhar SEMPRE do seu trabalho.

Saindo um pouco desse assunto, gostaria de fazer uma consideração importante sobre a capa.
 
No fundo, a estampa seigaiha (ondas) que simboliza o desejo de uma vida tranquila. Ela aparece também numa das lanternas do banner do blog. Falei sobre isso no post de 7 anos do blog.

É muito importante estar atento aos simbolismos.
Tanjirou Kamado de Kimetsu no Yaiba, passando no meio do texto para te vender carvão. Vai um carvãozinho aí pro churras? (Imagem meramente ilustrativa)
O nome da antologia aparece dentro de uma bola vermelha, que lembra o sol, e tem "raios" saindo dele por toda a capa.

De imediato remete ao "sol nascente", porém, esse é um péssimo símbolo para ser usado.
Durante o século XIX, o Japão resolveu expandir território e invadiu alguns países do leste asiático, como parte da China e da Coreia, cometendo crimes hediondos sem qualquer retratação.
 
Durante a 2ª Guerra Mundial, enquanto os homens faziam trabalhos forçados, meninas e mulheres eram obrigadas a trabalhar em bordéis como "mulheres de conforto" (gatilho: violência sexual).

Em 2017, o ex-Primeiro Ministro do Japão, Shinzo Abe, pediu à Coreia do Sul que retirasse um monumento de uma "mulher de conforto", que relembra as atrocidades que o Japão cometeu no passado.

"Ah, mas eles já pagaram indenização e pediram desculpas" - Como mulher, eu acho que indenização é pouco e que desculpas é menos que o mínimo que se faz num caso desses. Violência contra a mulher não tem argumento e o agressor nunca deve ser esquecido. As vítimas precisam sempre ser protegidas e preservadas, nunca o agressor. Ele deve ser lembrado de que não é nada além de um verme que rasteja nesta terra.

Portanto, o símbolo da "bandeira do sol nascente" deveria ser ignorado.

Pesquisando um pouco mais sobre arte e Japão, dá para fugir da mesmice e das coisas desnecessárias. Poderia ter rolado algo meio Ukiyo-e, que seria bem legal.

"Ah, mas Demon Slayer..." - A arte dos brincos do Tanjirou foi alterada na China.

Na minha opinião, não é drama e acho muito necessário existir respeito por quem se ofende com determinado símbolo, pois não custa respeitar o sofrimento e os traumas dos outros.

Se os responsáveis pela capa não sabiam, poderiam ter pesquisado mais a fundo.
É importante ter o comprisso contra mal-entendidos e símbolos ruins, afinal, ninguém quer se associar a algo assim.

"Ah, então por que não falou com a editora?" - Eu cheguei a comentar sobre uma informação errada em outro momento e a pessoa responsável não se interessou pela correção, tanto é que a informação passou errada para o livro.

Por conta disso, achei melhor me abster para evitar conflitos.

De qualquer forma, fica a informação sobre a "bandeira do sol nascente".

- Vaidade - O pecado dos artistas -
ACHOU QUE EU ESTAVA TERMINANDO ESTE TEXTO, LEITOR?
Qual a parte de "sou escritora" você ainda não entendeu?
Amado, isto aqui é um blog, tem texto. O que você esperava?

A boa notícia é que estamos no penúltimo tópico. Pode comemorar.

Não ligue para o que os outros dizem, uma história, um livro, é sim como um filho para o seu escritor e eu não vejo problema nisso. Afinal, se você não amar o seu projeto, quem vai fazer isso?

E daí os problemas começam.
Quando a pessoa não é madura o bastante, ela escuta uma crítica construtiva e entende uma ofensa grave à honra. Não saber a diferença entre a crítica construtiva e uma ofensa real é um grande problema.

E escritor parece que vive ligado no 8 ou no 80.
Quando não se acha o cocô do cavalo do bandido, ele acredita que merece uma coroa de louros dourados e ser idolatrado como um deus grego.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, galera.

É importante acreditar no seu potencial e trabalhar para melhorar sempre, além de não se deixar abater por gente com palavras cruéis e maldosas. E para isso, você precisa se equilibrar.

Entendo que em situação de pandemia e 4 anos de um governo que ajudou a insanidade a levar nossa saúde embora, seja difícil. Ainda assim, é preciso escutar as opiniões sinceras e que mostrem um caminho a seguir.

Só ouvir o que você quer, não vai te levar a nada.

Não é agradável escutar que estamos errados, que aquela determinada passagem não fez sentido, que não pesquisamos o bastante ou que nossa história não é a mais perfeita de todo o livro.

Certo, fique revoltado, ache um absurdo, vá beber uma água, coma alguma coisa gostosa, se acalme e a partir daí pense no que ouviu. Tudo que foi dito era realmente barbárie? Você não poderia mesmo ter melhorado aquela passagem? Depois de passado algum tempo, não acha que teve ideias melhores para aquele trecho?

Esse é o tipo de conversa mental interessante de fazer, já que quanto mais vivemos e absorvemos conhecimento, melhor ficamos. Bom, pelo menos aqueles que buscam evoluir. Quem quiser ficar parado, escolhe a defasagem.

Tudo a seu tempo, escritor.

O meme do "ele é artista, tem que ficar sendo elogiado" não deve ser levado para a vida, até porque nós temos que enfrentrar frustrações e fracassos durante toda a nossa existência. Não dá para fugir disso.

A outra boa notícia deste tópico é que tem gente com muito potencial nesta antologia. Histórias bem escritas, universos bem construídos, personagens interessantes. O Brasil tem uma boa leva de escritores, eles só precisam amadurecer, pesquisar mais e continuar evoluindo e escrevendo.

Como o tema da antologia é bem específico, alguns empacaram nos detalhes de vivência, outros na "demonização" ou "folclore maldito" e outros na pesquisa do folclore.

Com exceção de um conto, todos foram escritos com "alma". Dava para ver a intensidade dos autores nas palavras e sua vontade de contar aquelas histórias.

Alguns não pareciam à vontade com o universo e pelo menos dois contos estavam quase um episódio de Sobrenatural, no sentindo bem americano. E isso não é tão legal. Há maneiras de mostrar a maldade das criaturas sem demonizá-las. Por isso as dicas lá em cima.

Muito boas as histórias que pesquisaram os cenários, só cuidado com a quantidade de informação que vocês despejam de uma vez no leitor. Sei que o limite era de cinco páginas por conto, mas é interessante saber dosar.

Cuidado com muita subjetividade, o público nesta antologia era infantojuvenil.
Tem conto que ficou confuso por conta disso.
Nem sempre o leitor vai entender que o autor quis fazer um mistério ou uma sobreposição, vai parecer que ele não sabia o que estava escrevendo.

As lendas do folclore nem sempre são apenas trágicas, também existe muito humor.

Se não tem certeza, não arrisque. É melhor ter embasamento para se sentir seguro e criar. A criatividade não faz o trabalho sozinha.

Alguns textos estavam muito imaturos e mostravam o despreparo de seus autores ao compor a história. A boa notícia é que dá sempre para melhorar com as dicas que dei lá em cima.

E apesar de existir revisão, autores, se atentem ao português e ao uso das vírgulas. Dependendo de onde ela estiver, temos uma interpretação ou outra. Também é bom para marcar respiração e fluidez na leitura.

Não vejo problema na maioria gostar das histórias de Baku e das raposas de nove caudas, contudo, ficou um pouco cansativo ler os "mesmos personagens" em tantas histórias. Ainda que as abordagens tenham sido diferentes, isso acabou matando certo ineditismo/surpresa.

Não considero um problema de quem escreveu, mas uma questão a ser pensada por quem organizou a antologia, uma vez que, os autores não faziam ideia de quais histórias tinham sido escolhidas.

A parte engraçada é que eu jurava que teríamos mais Yuki-Onnas ("mulheres da neve"), mas o brasileiro mostrou que este é um país tropical e não gostamos de frio. Vocês têm o meu apoio. ahahaha <- Que me perdoem as Yuki-Onnas e os amantes de frio.
Aproveitei o lindo pôr do sol para tirar a foto.
- "A senhora tem um minuto e meio para suas considerações finais" -
Bom, chegamos ao final deste texto.

"Ah, vai terminar assim? Não vai falar para qual conto/autor foi cada uma das suas críticas?" - Leitor, eu não tenho problema nenhum em falar para uma pessoa sobre seus pontos fracos e pontos fortes, acontece que a gente precisa ter intimidade e/ou ela estar aberta ao diálogo.

Não é preciso expor uma pessoa que pode não estar preparada para ouvir um comentário desagradável. Se alguém quiser um toque específico, uma opinião sincera sem ser cruel, estou à disposição. E com o sentido de uma faca de dois gumes, também vou ouvir o que ela tem a falar sobre os meus contos.

Além disso, serve de exercício de observação para cada escritor.
Muito mais do que um "isso é sobre o meu conto ou o de fulano?", é mais como "o que posso aprender com essa dica aqui?" e "o que eu fiz que não ficou tão bacana e pode ser melhorado?".

Não deixa de ser também uma "leitura sensível" de uma mulher amarela, com consciência de classe e que pesquisa folclore há alguns anos.
 
Obrigada pela leitura! o/
 
Por Kimono Vermelho aquela que vai curtir o dia de vermelho, que é para dar mais sorte ainda!!! - 31/10/2022

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